Como um estudioso de arquitetura descreveu, a Casa "Il Girasole", de Luigi Moretti, 1950, é "um pouco de loucura na solidez das muralhas romanas." [1] No entanto, este edifício de apartamentos no coração de Roma está longe de ser o trabalho de um louco. Suas sutis alusões históricas e composições deliberadamente ambíguas revelam o gênio da mente criativa e analítica do arquiteto. Moretti, cujas notáveis obras incluem Villa La Saracena (1957), a Torre da Bolsa de Valores de Montreal (1964), e o Watergate Complex (1971), alcança uma complexidade formal e material em "Il Girasole", projeto que se distingue dos seus contemporâneos de meados do século XX, reconhecido como um dos primeiros precursores do pós-modernismo.
"Il Girasole", traduzido como "O Girassol," recebeu seu nome da forma como o edifício parece libertar-se das restrições contextuais para redefinir sua relação com o entorno. Notavelmente, os perfis laterais teatralmente descolam-se para maximizar a exposição solar, como uma flor rotacionando-se para seguir o sol. Na parte da frente, uma incisão na fachada parece dividir a construção em duas, derramando luz ao interior do edifício e iluminando a sequência de entrada principal. Adicionando às manipulações criativas do perfil, Moretti finamente estende a superfície das fachadas frontais e traseiras do volume da edificação, conferindo uma aparência leve, como uma tela.
Em planta, o edifício funciona mais ou menos em forma de U, com a incisão frontal estendendo-se para um pátio central onde se concentra a circulação do edifício. As unidades habitacionais estão espalhadas em torno deste núcleo oco em um sistema de grid torcido que espelha a geometria do lote. Uma simetria falsa, mas implícita, é conseguida através do pátio em todos os andares, exceto no piso térreo, onde um conjunto inesperado de curvas orgânicas domina o átrio e perturba a ordem da rota de entrada.
As características mais marcantes do edifício são as muitas pequenas distorções que Moretti faz na simetria e equilíbrio do edifício, como a quebra no topo do frontão sobre a entrada que não chega a se alinhar e a escadaria de entrada ligeiramente fora do eixo. Elementos deliberadamente "indecidíveis" como estes, como Peter Eisenman os chama, são o que fazem "Il Girasole" impossível de categorizar corretamente no contexto histórico e doutrinário. [2] Uma das primeiras críticas do projeto, publicada em 1953, descreveu-o como "eclético", mas que ainda podia ser entendido em termos modernistas. [3] No entanto, após sessenta anos, sugere-se que o edifício empresta a linguagem de seus predecessores modernistas, mas liberta-se da "caixa" modernista e reinventa os papéis dos elementos formais e estruturais. "Il Girasole" rejeita e até mesmo satiriza os limites da doutrina modernista.
As alusões aos precedentes históricos também geraram discussões sobre o papel do edifício como um pioneiro no pós-moderno. Moretti, um estudioso da arquitetura renascentista e barroca, referencia ideias históricas em toda a composição do edifício e dos aspectos formais do mesmo modo que alguns arquitetos pós-modernos posteriormente pretenderam "reanimar a história" através dos seus próprios projetos. [4] Em 1966, Robert Venturi prestou homenagem a este aspecto da "Il Girasole" em seu livro Complexidade e Contradição em Arquitetura, trazendo reconhecimento generalizado para o projeto. [5] Crê-se que o edifício também influenciou o projeto mais famoso de Venturi, a Casa Vanna Venturi, que incorpora uma divisão notavelmente semelhante em sua fachada frontal. Devido a estas referências, "Il Girasole" é rotineiramente apropriado como um dos principais precursores da arquitetura pós-moderna em livros e exposições. [6]
Esta amálgama de referências históricas e ideias é particularmente visível na paleta de materiais de Moretti. Justaposições curiosas de mármore, rochas, vidro, metal, cerâmica e madeira ocorrem em todo o edifício sem qualquer ordenamento aparente, criando uma aparência distintamente caótica. [7] No átrio, um mosaico parece cair suspenso do teto, desafiando o uso convencional do material e a lógica estrutural da mesma forma que os elementos pesados sobre o exterior do edifício descansam não intuitivamente sobre materiais mais leves. Embora possa haver um grau de aleatoriedade na escolha de materiais de Moretti, eles são cuidadosamente orquestrados para serem tanto provocativos como geralmente agradáveis.
Talvez a melhor maneira de entender "Il Girasole" seja abraçar a incapacidade de ele ser caracterizado por qualquer singularidade de significado ou identidade. Um artigo publicado em 2011 na revista de arquitetura OASE encapsulou este aspecto pungente da obra de Moretti, dizendo: "Nem um fator nem o outro assumem tal importância para traduzir o seu legado em uma só linha". [8] A complexidade inerente a este projeto é a essência de sua intriga, e se destaca como um tributo ao domínio sublime das nuances e ambiguidades do arquiteto.
REFERÊNCIAS
[1] Quoting Professor Guiseppe Strappa. Macchi, David. “Sunflower House.” Romapedia, 22 Oct. 2013. Acessado em 14 Julho de 2014 em http://romapedia.blogspot.com/2013/10/sunflower-house.html.
[2] Eisenmann, Peter. Ten Canonical Buildings 1950-2000. New York: Rizzoli, 2008.
[3] Banham, Reyner. “Casa del Girasole: Rationalism and Eclecticism in Italian Architecture.” The Architectural Review 113 (February 1953): 73-77.
[4] Iovine, Julie V. “History, Repeating Itself.” The Wall Street Journal Online, 21 Dec. 2011. Acessado em 14 Julho de 2014 em http://online.wsj.com/news/articles/SB10001424052970203430404577094450508750044.
[5] Venturi, Robert. Complexity and Contradiction in Architecture. Museum of Modern Art: New York, 1966.
[6] Moore, Rowan. “Luigi Moretti: From Rationalism to Informalism, Rome, Italy.” The Architectural Review, 27 July 2010. Acessado em 14 de Julho de 2014 em http://www.architectural-review.com/reviews/luigi-moretti-from-rationalism-to-informalism-rome-italy/8603499.article.
[7] Eisenmann, Peter. Ten Canonical Buildings 1950-2000. New York: Rizzoli, 2008. 33.
[8] Leach, Andrew. “On Moretti: Last of the Moderns.” OASE Journal #86 (2011): 56-65.
- Ano: 1951